Uma visão sobre a anestesia
Entrevista realizada por Bruno Rocha Pessoa

Dr. Raimundo Barreto Pessoa é médico diplomado pela Universidade Federal da Paraíba em 1978. Fez graduação e especialização em cardiologia no ano de 2007, latu-senso pela Universidade Federal do Ceará.
Anestesista há quase 30 anos, reside em Limoeiro do Norte onde tem sua clínica particular. Realiza ultra-sonografias e atua também como clínico geral.
É casado, pai de três filhos, sendo dois homens e uma mulher. Nas horas vagas gosta de ler e cuidar de seus pássaros.
Há quantos anos o senhor é Anestesista?
Sou anestesista há 26 anos.

De onde veio a inspiração para a anestesia?
Eu pensava antes fazer cirurgia ou cardiologia, na verdade havia vontade de ser aqueles médicos generalistas que fazem de tudo. Não recordo bem quando me surgiu o interesse; em São Paulo houve até um episódio em que um médico anestesista  me negou apoio em relação ao interesse na área. De qualquer forma, enfim, fiquei muito satisfeito com a oportunidade do ministério da saúde e assim fiquei empolgado com a anestesia.

Acredita que há carência dessa especialização no nosso estado?
Há carência sim no interior, até mais que de cirurgiões, mesmo sendo uma profissão muito boa. Acredito que em Fortaleza, não haja tanta carência assim, também não vejo vontade deles virem para o interior. Se um anestesista quisesse vir trabalha de segunda a sexta no hospital municipal daqui, teria tranquilo o trabalho.

Quais as maiores inovações dentro da anestesia vista pelo senhor em anos de formação?
Do tempo que fiz anestesia até hoje, muitas coisas estão mudadas; muitas coisas que de dez anos pra cá agente não usa de jeito nenhum, desde agulhas à drogas.
Usava-se uma agulha que era re-esterilizada; hoje temos agulhas descartáveis, de vários calibres que ajudam também a prevenir cefaléia "pós-raqui". Os anestésicos são mais modernos, a Bupivacaina então é um exemplo que no meu tempo não tinha; drogas hiperbáricas e isobáricas, além disso, anestésicos voláteis; bons anestésicos que são menos hepatotóxicos e nefrotóxicos.Os carrinhos de anestesia hoje, são verdadeiros computadores, um material melhor utilizado para a confecção dos equipamentos, sondas...
Novos analgésicos também que agem associadas à raquianestesia ou anestesia geral para não sentir dores no pós operatório.
Enfim, atualmente a anestesia está rica; houve uma evolução com bons anestésicos, analgésicos, equipamentos, tudo transmitindo uma maior segurança.


Na consulta pré-anestésica, é realizado algum teste para anestesia?
A consulta pré-anestésica, consiste em fazer uma avaliação cardio-pulmonar; questionar se é portador de alguma patologia (cardiopatia, nefropatia, diabético); questionar se houve já problema com algum anestésico, alergias a medicamentos utilizados comumente: analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios; se é usuário de drogas; se tem pescoço curto, o que  pressupõe a dificuldade de entubação.
Avaliar a coluna do paciente, se tem escoliose, cifose, artrose, o que poderia dificultar a anestesia.
Ajuda a avaliar se haverá possibilidade do paciente ser encaminhado pós cirurgia pra uma UTI, assim programando todo o procedimento pré, intra e pós cirúrgico.
Embora haja em alguns países estudos sobre testes em clínicas alergo-anestesia onde alergista e anestesistas trabalham juntos, acredito quem em canto nenhum aqui da região faça teste de alergia, no entanto, o histórico pessoal de alergia ou mesmo familiar é de grande importância a ser averiguado pela consulta e descrito na ficha pré-anestésica. Tudo para ter a visão do risco cirúrgico.
Acredito que o melhor teste alérgico prévio a ser realizado é a consulta pré anestésica.


E sobre o tema Hipertermia Maligna, o que é importante destacar?
Bem, graças a Deus, nesses 30 anos de carreira eu nunca peguei um caso de hipertermia maligna. Ela manifesta quando o paciente é exposto aos agentes desencadeantes e é importante saber que uma ou mais anestesias prévias sem intercorrências não excluem o paciente da susceptibilidade à hipertermia maligna.
Não tem como prever que o paciente irá ter o episódio da hipertemia...
Por isso a importância de conhecer a história familiar relacionada a intercorrências em anestesias, consultar o anestesista; manter Dandrolene disponível no seu hospital.

O que o senhor pode dizer para um acadêmico que pretende seguir anestesia como carreira?
É uma boa profissão, uma boa escolha, pois é uma área em que o campo ainda tem a crescer. Entenda que há necessidade de anestesistas não só em procedimentos cirúrgicos como também em diagnósticos, como em endoscopias.
Muitos procedimentos necessitam do anestesista, enfim, todo procedimento que causa dor, necessitará de um anestesista.